quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval em BH

Eu passei o carnaval em Belo Horizonte! Foi ótimo!

Não estranhe... Achei realmente ótimo o carnaval em Belo Horizonte! Sem bagunça, sem aquela multidão de pessoas alienadas, sem a violência costumeira, sem a sujeira dos foliões, sem aquele monte de música horrível (se é que se pode chamar de música!), sem nada disso...

A cidade estava uma beleza. O trânsito tão complicado em nosso cotidiano estava uma tranquilidade só. A cidade que costuma ficar tão suja, principalmente nas áreas centrais, estava irreconhecível. Os ônibus parecendo de cidade de primeiro mundo, todos com lugares de sobra. Enfim, parecia que eu estava em outro mundo!

Se continuar assim pra mim tá ótimo, vou passar todos os carnavais em BH! Muitas pessoas pregam que Bh deveria desenvolver um carnaval digno das grandes praças da folia. Há quem defenda que se BH desenvolver um carnaval chamativo e de qualidade a própria população de BH não sairia tanto da cidade. Discordo! Acho que a própria população de Bh não abraçaria a causa. O povo gosta de sair, de viajar, e desbancar os já tadicionais terreiros da folia seria muito difícil...

Acho que Bh deveria é abraçar a característica que para tantas pessoas daqui e de tantos cantos do país é agradabilíssima! A de não ter carnaval! A nossa cidade deveria deixar de lado essas tentativas capengas de fazer carnaval nos moldes cariocas, ou baianos e assumir de vez esse nosso lado não carnavalesco, e atrair as pessoas de outros cantos que também não gostam da bagunça!

Façamos o Carnarock, aposto que uma multidão de pessoas viria para Belo horizonte para curtir um bom festival de rock. A nação rock´n roll é gigantesca e teríamos público fácil de todo o país. Não quer a bagunça do rock também? Faça uma programação cultural diversificada, com mostras de cinema, teatro, músicas diversas, voltado àquelas pessoas que querem fugir da folia. Vamos atrair o povo que quer fugir dessa loucura, dessa insanidade que é o carnaval! Ou simplesmente faça a campanha: "Quer fugir da bagunça? Nós também! Venha pra BH ficar quietinho!"

Gentileza urbana é...


Já reparou no isolamento das pessoas?

Tenho reparado cada vez mais na condição de isolamento em que muitas pessoas se colocam, muitas veze sem perceber.

Cada um tem seu mundo, cada um tem suas preocupações e prioridades que impedem a percepção do mundo ao redor. É impressionante o exercício de observar as pessoas no metrô, ou no ônibus por exemplo. Cada um com seu MP3, MP4, MP5... MP15 (nem sei em quantos MP´s paramos no momento hehe). É incrível como cada pessoa se fecha em seu próprio mundo e nada que aconteça ao seu redor é capaz de ganhar importância a ponto de lhe distrair. A tecnologia, certa vez foi definida por Bill Gates como o instrumento que serviria para aproximar as pessoas, e já foi definida assim por muitos, porém ao que parece o efeito é completamente inverso à previsão de Gates. A tecnologia tem sido um instrumento que afasta cada vez mais as pessoas.

Não me retiro desssa estatística. Eu também quando estou no ônibus ou no metrô escuto o meu MP4 e viajo em meu próprio mundo, escutando o meu bom e velho rock´n roll, e saio sem nem ao menos perceber se a pessoa que estava ao meu lado era velha ou nova, gorda ou magra, se vestia terno ou bermuda... Certas vezes não sou capaz de reparar que a pessoa que estava ao meu lado no assento já deixou o ônibus ou o metrô e que outra pessoa tomou o seu lugar.

Nas relações interpessoais, os pequenos gestos cumplicidade, muitas vezes já se perderam. As amizades parecem diferentes. As relações no ambiente de trabalho é das mais tenebrosas! O interesse individual perspassa e muito o interesse do bem estar coletivo e a competitividade é algo estarrecedor... A ponto de realmente ser impossível, ou praticamente impossível construir uma relação de amizade verdadeira no ambiente de trabalho... É cada um por si...

Nas relações familiares, é cada vez mais comum escutarmos histórias de brigas homéricas, que sujeitam a instituição família a uma condição muito distante da ideal. A cumplicidade, a amizade, o carinho e o amor dos membros de uma família são cada vez mais admirados quando encontrados.

A gentileza é artigo raríssimo nos dias atuais... Já tentou pedir passagem ou mudar de faixa durante um trânsito intenso? No trânsito percebemos a falência completa da gentileza e da boa convivência social! Aquilo parece um espaço selvagem onde o mais importante é mostrar o seu domínio perante o outro motorista.

Tão raros são os momentos de gentileza no dia a dia, seja no trânsito ou não, que quando praticados por um boa e velha alma saudosista, que ainda preza pelo bons momentos proporcionados pela conduta gentil e cortês, é motivo de espanto ou de chacota. O gentil é taxado de bobo, inocente ou idiota...

Nesse quadro, as pessoas vão se isolando cada vez mais, se fechando em seus interesses e problemas, pouco se importando com o que se passa em seu entorno, e infelizmente a tendência é só piorar...

madrugadas...

Você também é um senhor das madrugadas? Na menor das oportunidades passa a madrugada em claro? Pô, dormir é bom, gosto demais... dormir está entre os grandes prazeres da minha vida hehe... Mas as madrugadas em claro tem o seu lugar!

Tendo ou não o que fazer, tendo ou não um lugar pra ir, pra curtir a noite, alguma festa, encontro de amigos em bares e etc, ou mesmo em casa... Não existe horário melhor que a madrugada!!!!!!!

A única coisa que não gosto de fazer de madrugada é acordar...

Horário tranquilo, silencioso, posso ficar ouvindo minhas músicas sossegado, escrevendo alguma coisa aqui nesse blog, lendo notícias na internet, jogando meu play2, conversando no msn, tanto faz!!!!! Posso ir pra alguma festa, passar a noite em algum bar ou qualquer coisa do tipo, também é muito bom!!!

Se você estiver na rua, os tipos mais engraçados e interessantes estarão na madrugada. Das figurassas nos bares, festas ou boates, até o pessoal da rua mesmo... Só figurassa! Na madrugada tudo é possível, não é preciso ter medo do ridículo! É um eterno carnaval!!

Se tiver no sossego de seu lar, é um ótimo horário para ficar tranquilo. O silêncio reina no bairro (por incrível que pareça!), atrapalhado somente por algum galo eventualmente incoveniente (galo? onde em BH alguém ainda cria galinha? hehe já escutei aqui no bairro...). Você pode ler aquele livro que você não consegue durante o dia na semana; na madrugada do fim de semana você pode enfim se concentrar na sua leitura! Você pode atualizar seu blog que está desatualizadíssimo após dias de abandono. Ou simplesmente achar algum louco que como você adora a madrugada e trocar uma idéia no msn enquanto escuta suas músicas favoritas...

A madrugada é também um excelente momento para reflexões e para nos recolhermos em nosso próprio mundo. Um ótimo horário para praticar nosso "autismo voluntário" (sem nenhuma referência desrespeitosa aos autistas de verdade, por favor entendam o que foi dito!).

Televisão costuma ser ruim em qualquer horário, mas se caso queira se aventurar a zapear os canais de televisão durante a madrugada é perigoso achar algum filme antigo que nem lembrava mais, mas que ao primeiro contato faz você recordar de que gostava muito daquele filme, ou mesmo um filme antigo que nunca tenha visto e que te surpreenda.

E quando você aproveita bem as suas madrugadas, você ainda pode acabar com aquela brincadeira: " Oq vc faz de meia noite às seis???" A sua resposta pode ser diferente a cada dia...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ádvenas do Quintal (1)

Por muito tempo venho tentando escrever esse texto. Para falar da experiência proporcionada pela monografia que finalizei junto com meus companheiros de trabalho Lucas Zenha, Igor Carneiro e Maximiler para a conclusão da nossa graduação em Geografia.

Posso dizer que foi uma experiência única, e que o engrandecimento pessoal foi tão ou mais importante que o engrandecimento acadêmico.

Para explicar um pouco, o nosso trabalho de conclusão do curso foi sobre uma comunidade quilombola, com foco principalmente no processo de titulação de suas terras. Passamos alguns dias na Comunidade Quilombola Água Preta de Cima (que a partir daqui aparecerá no texto como APC). Foram dias de muito trabalho, entrevistas, muitas conversas informais com os moradores, observações e etc...

Localizada no município de Ouro Verde de Minas, no Vale do Mucuri, bem próximo de Teófilo Otoni, a comunidade é muito pobre, bem como todo o município, e foi uma experiência única a vivência proporcionada por esses dias passados na comunidade.

Mas o que me chamou muito a atenção será relatado a seguir:

Numa das entrevistas realizadas para o nosso trabalho, um dos moradores da comunidade, o "cumpade" Manoel, ao responder a pergunta do que a comunidade representava para ele, respondeu de uma forma muito simples e muito bonita: " É o nosso quintal né? Todo mundo precisa de um quintal, pra plantá, colher, ver os passarinho cantá..."

De início não dei muita importância para a resposta dele, mas depois escutando a entrevista novamente eu fiquei impressionado, que de uma forma bem simples, do seu jeito, definiu muito bem a sua relação com o espaço da comunidade, com aquela terra. Muito melhor do que se eu tentasse durante horas dentro dos meus termos acadêmicos definir essa relação.

Ao definir a comunidade e seu espaço como o seu "quintal", o Manoel resumiu muito bem o sentimento de pertencimento para com a comunidade, e a importância daquele espaço para ele. Afinal de contas somente o seu quintal é capaz de construir uma relação tão forte assim! Onde ele foi criado e onde ele cria seus filhos!

Todo mundo se identifica com algum lugar, correto? Todos nós temos o nosso cantinho preferido, onde nos sentimos bem, onde reconhecemos e praticamos a nossa territorialidade. Enfim, o nosso lar, o nosso "quintal"!

O que é triste perceber é que esse dito quintal do cumpade Manoel e de tantas outras famílias da APC, em grande parte, já não é mais deles. O processo de ocupação da comunidade pelos remanescentes de quilombo é um processo histórico e legítimo, porém fortemente negligenciado. No caso da APC a ocupação daquele território data de mais de cem anos e diversas características do local indicam realmente a existência de um quilombo. Desde a distribuição espacial dos moradores até as caracteríticas físicas do local, encravado entre as montanhas, indicando uma fortaleza natural.

Como em diversas partes do país, a comuniade foi perdendo a luta contra os fazendeiros, grileiros, políticos, e etc. O território da comunidade hoje equivale talvez à metade do que era realmente ocupado em seus primórdios. A grande maioria dos moradores vivem na perversa realidade do minifúndio.

Os moradores tem seu quintal nas mãos de outras pessoas, e de forma cruel, essas pessoas não tem acesso a grande parte dele. As melhores terras para plantio, as "baixas" estão nas mãos dos fazendeiros, e nas terras que sobraram aos quilombolas é muito difícil cultivar alguma coisa.

Diante das dificuldades enfrentadas no campo, sem terra suficiente para plantar, sem grandes perspectivas de melhora, muitos vão para a cidade, viver longe do quintal, e passam a viver nas grandes cidades, com novas dificuldades, pois não possuem qualificação para se posicionar bem no mercadode trabalho urbano. Outros tantos vendem a força de trabalho para os fazendeiros do entorno a troco de mixaria.

Os poucos que possuem terra suficiente para plantio e pra uma vida minimamente digna, se é que possuem mesmo, são obrigados a ceder espaço em suas terras para não ver o irmão abandonado.

No final das contas temos um cenário assustador. O cumpade Manoel e tantos outros moradores da comunidade são estranhos ao seu Quintal! Essas terras não lhes pertence mais! Foram arrancadas de suas mãos pelo processo feroz e cruel qu ocorre em todo o Brasil de expulsão do tabalhador do campo! São estranhos ao seu próprio quintal, são intruos, forasteiros. Formam assim a trupe dos Ádvenas do Quintal!

Já imaginou a tristeza que é ver seu "quintal" nas mãos de outros, que talvez nem tenha uma relação com aquela terra além da relação econômica de acumulação de capital? Que talvez nem vá ao lugar, que talvez tenha aquela terra apenas como mais uma de tantas outras! Ver o seu lugar, ali tão perto de você e ao mesmo tempo tão inacessível, de forma que se você atravessar a cerca que separa você de seu quintal você é considerado um intruso, um invasor?

O cumpade Manoel quando disse que a comunidade representava o seu quintal definiu muito bem a relação que todos da APC possuem com aquela terra e que foi perdida a muito tempo, num processo cruel que foi formado no Brasil desde a lei de terras de 1850. Perdeu-se o verdadeiro valor da terra como fonte de sobrevivência e de contrução de uma identidade, de um território. A terra tornou-se simples mercadoria.

De momento é só, senão me alongarei demais no texto. Mas retornaremos ao assunto mais tarde! É um assunto que merece toda a atenção e toda a discussão...