sábado, 16 de janeiro de 2010

JOSÉ


_ Lá vai o José... Coitado, sempre sozinho...

_ Deve ser doido esse tal José! Como alguém pode aguentar viver assim tão sozinho?

_ Não tem amigos, esse tal José?

_ Mas será que ele é sempre assim, calado?

_ Dizem que ficou louco porque perdeu muito dinheiro!

_ Dizem que ficou louco porque a mulher largou o coitado!

_ Mas dizem tanta coisa desse José.... Nunca vi foi ele mesmo dizendo alguma coisa!!!!

E segue José, seu passo tranquilo na ponte reflete a leveza de quem leva a vida na tranquilidade. Não parece ter as preocupações de todo mundo. Não parece carregar grandes culpas. Não parece se atormentar por nada. Sua face revela a paz que todo homem pede a Deus.

E agora José????????????

_ " É tão simples entender: se o que tem a dizer é menos importante que o silêncio, é melhor permanecer calado! Muitas vezes a "solidão" é a melhor companheira da alma..."

E lá vai José....

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DESGRAÇA ESPETACULAR...

Aristide assiste sem maiores espantos a mais um atendimento no hospital em que trabalha já faz dois anos. O paciente é um rapaz que foi achado ferido por soldados da força de paz da ONU e que foi encaminhado ao hospital já à beira da morte. Infelizmente essa cena é rotina para Aristide, que mesmo fora do hospital a caminho de casa, não raramente, se depara com corpos pelo chão, abandonados por seus algozes sem nenhuma cerimônia. É a dura realidade de um dos países mais pobres do mundo, sem estabilidade política e econômica, e sem um mínimo de infra-estrutura para a vida digna e dominado pela pobreza e violência.

De repente, enquanto assiste ao atendimento do rapaz trazido pelos soldados da força de paz, como que em um bombardeio, Aristide se vê soterrado num escuridão completa, sentindo o ar rarefeito e com dores em tantos lugares do corpo que é até difícil identificar onde dói. Tudo é pó, cimento, dor e angústia...

A história de que quando você está à beira da morte, sua vida passa em em um segundo na sua cabeça, como se fosse um filme, foi comprovada em parte por Aristide, que realmente assistiu em sua mente um filme da própria vida enquanto nutria esperanças de ser resgatado, Só que não foi em um segundo, o filme passou durante cinco dias. Foram cinco dias de angústia e solidão, um tempo em que lutou bravamente contra a morte e a vontade de logo perecer, para que findasse o seu sofrimento. Na verdade não tinha nem idéia de quanto tempo havia se passado ali debaixo daqueles escombros.

De repente um ruído. Inicialmente distante. Um som aparece como um fio de esperança para ele que já tinha quase desistido de tentar sobreviver. Ele escuta o que parece ser uma voz, perguntando se ele estava bem. Foi com imensa alegria que ele percebeu que finalmente poderia sair daquele pesadelo e então ser salvo. Depois de quase quatro horas de operação de resgate ele é finalmente retirado daquela situação.

Que susto! Que alvoroço! Quantas câmeras! Quantos idiomas que não tem nem idéia de onde sejam! Quantos flashs, quanta badalação! E ele só quer saber o que aconteceu... Foi ataque terrorista? Onde estão os meus companheiros de hospital? que alvoroço é esse?

Depois de algum tempo ele consegue escutar de um dos repórteres que em inglês disse: _ Vocês puderam acompanhar esse emocionante resgate de um sobrevivente que mesmo depois de cinco dias soterrado debaixo do hospital que ficou completamente destruído após o terremoto, consegue sair com vida!

Ele só consegue pensar em duas coisas: "Meu Deus, que repórter idiota, se sou um sobrevivente é claro que saí com vida"; e depois que pôde interpretar melhor as informações e perceber a dimensão do ocorrido ele pensa: "Minha família...!"

No caminho para o hospital militar, montado de improvisação pelas forças de paz da ONU, Aristide não acredita no que vê. É notório que seu país não tinha uma infra-estrutura nem perto da mínima pra vida digna, mas agora está completamente destruído. O que ele achou que não podia piorar estava irreconhecível. O caos, o desespero e o abandono tomavam conta.

Era difícil ver um prédio de pé. Os que ainda estavam de pé estavam seriamente comprometidos. corpos espalhados pelo chão. Pessoas desesperadas andando pra lá e pra cá em busca de familiares, de água, de comida, ou simplesmente andando sem rumo. E além disso tudo uma coisa impressiona Aristide. A quantidade de equipes de reportagem. De todos os cantos do mundo.

Uma tropa de repórteres observa e persegue Aristide, o símbolo de esperança de um país destroçado por um terremoto. Todos os seus passos eram seguidos. Qualquer mudança no seu boletim médico, a sua luta incansável para descobrir o paradeiro de sua família, os lugares por onde passa, as dificuldades que enfrenta, o seu dia a dia... tudo esmiuçado nas telas do mundo todo. Um Big Brother da Desgraça Alheia...

No Brasil, uma população imensa acompanha em detalhes a história de nosso herói haitiano. Com riqueza de detalhes o dia a dia de Aristide é compartilhado com os brasileiros através dos telejornais:

* Veja daqui a pouco no Bom Dia Brasil: O resgate de Aristide, o símbolo de esperança do Haiti, em cenas emocionantes de um resgate imperdível que nossa correspondente internacional acompanhou de perto!!

* Veja a seguir no jornal Hoje: " A busca desesperada pelos familiares de Aristide"

* "Agora no Jornal Nacional você vai acompanhar o momento em que Aristide ficou sabendo da morte de seus familiares. Cenas impressionantes que vão comover você! " E logo depois da reportagem de Aristide com o fim da saga pela sua família, o âncora do jornal diz no tom mais irritante do cinismo: A seguir, os gols da rodada!!!!


E a novela de Aristide, que era um símbolo mundial de esperança, depois dos gols da rodada, se transformou em apenas mais uma notícia vaga, sobre algum desastre em algum canto do mundo que serviu pra emissora de TV faturar uma grana e segurar a audiência.

domingo, 10 de janeiro de 2010

O ano da angústia...


2010 está aí.... Já chegou!

Esse ano é um ano com certas angústias. É agora em 2010 que pretendo terminar meu curso. É em 2010 que preciso tomar algumas decisões buscando um rumo para a minha vida. Todo mundo no ano novo sempre fala de seus planos, seus projetos, que agora no próximo ano isso, no próximo ano aquilo... Sempre vi as pessoas fazerem milhões de promessas e declararem milhares de planos que na maioria das vezes no dia 02 de janeiro já foram esquecidos.

Pela peimeira vez eu sinto que o ano novo foi uma fronteira temporal para que algo aconteça. Nunca tive a crise do ano novo. Nunca fiz grandes planos na virada do ano. Para mim era apenas uma simples mudança de data, a passagem de um dia para outro, como ocorre todos os dias em nossas vidas. Pela primeira vez o decorrer do ano e os meus planos foram um ponto de preocupação em meus pensamentos.

É estranho. Confesso que fico até mesmo um pouco assustado, pois a partir do momento que você faz planos, você assume um compromisso com você mesmo em busca de um objetivo. E um compromisso com você mesmo parece que carrega uma carga de responsabilidade tão grande... Será que vou falhar em um compromisso comigo mesmo?? QUE FRACASSO!!!! Se nem os compromissos que comigo mesmo eu conseguir cumprir...

Já faz um tempo que carrego comigo uma dúvida que corrói o meu sossego. O que vou fazer depois que me formar? Putz, será que tento algum serviço como bacharel em Geografia? Será que vou para a educação exercer a minha licenciatura? Será que tento concursos? Será que mudo de área e faço outro curso superior? Será que tento partir para uma pós-graduação, ou mestrado? são tantas perguntas e tão poucas respostas...

Nós saímos muito crus da faculdade. Conhecemos muito pouco da realidade do profissional que decidimos ser. Assumo minha culpa nessa questão. Durante grande parte da minha graduação tive trabalhos que não tinham nada a ver com a minha área de estudo. Optei por ganhar um salário bom fora da minha área para que pudesse viver mais tranquilo financeiramente, porque viver com a bolsa que oferecem nos estágios, para quem paga faculdade e as demais despesas do dia-a-dia, é cruel!!!

Agora nesse ano de conclusão do curso a angústia corrói com mais voracidade o meu ânimo. O início de 2010 para mim será de intensa reflexão, para que no decorrer do ano eu possa realizar aquilo que eu achar o melhor caminho para mim, de forma mais organizada e eficaz possível.

É difícil ser gente grande...